Fazem parte desse formato os parentes, os amigos e até os bichos de estimação, unidos não apenas pelos laços de sangue, mas também pelos de afeto.
Publicado em 20/11/2013
POR Cristine Kist/ Ilustrações: Evandro Bertol
Edição 138 (Vida Simples)
A publicitária em início de carreira Paula Corrêa ainda morava com os pais quando a mãe foi obrigada a trocar a casa da família pelo leito de um hospital. Ela lutava contra o câncer já havia algum tempo e, naquele momento, um transplante parecia a única alternativa possível. Paula era compatível e doou parte do próprio fígado. Mas a mãe não resistiu à cirurgia e morreu poucos dias depois, levando um pedaço da filha junto com ela. Paula contou essa experiência no recém-lançado “Tudo que mãe diz é sagrado” (Leya), um livro que trata, basicamente, da dor causada pelo rompimento do laço mais fundamental: aquele entre uma mãe e seu filho.
Depois da perda da mãe, Paula saiu da antiga casa da família, que "ficou grande demais", e foi morar só com o cachorro. Almoça com o pai e os irmãos nos finais de semana e diz que nunca estiveram tão unidos. De certa forma, também estreitou a relação com os amigos: "Muitos que estavam na missa de sétimo dia e me abraçaram chorando são pessoas que vão estar na minha vida para sempre". Para as estatísticas, a perda da mãe e consequente mudança de endereço significam que Paula não faz mais parte de uma família tradicional. Mas a verdade é que, apesar de "carinho de mãe não ter substituto", ela continua cercada de afeto. E, atualmente, o afeto já é aceito como um critério muito mais confiável do que os laços de sangue para determinar, afinal, o que é ou não uma família.
"Como carro do ano"
A família é, como gostam de dizer os sociólogos e os historiadores, a "célula básica" da sociedade. Quase todos os modelos de carro, por exemplo, têm cinco lugares, e os apartamentos, em geral, no máximo três quartos - tudo feito sob medida para um casal com dois ou três filhos. "Esse padrão prevaleceu nos últimos séculos e se tornou importante justamente por ser um padrão: todo mundo queria seguir a regra. Era como o carro do ano, todo mundo queria ter um", explica o psicólogo Jadir Lessa. ..
Família modelo 2013/2014
Esse último censo comprovou o que parecia evidente: a maioria dos lares do Brasil não se enquadra mais no padrão de família nuclear. Já são 28,6 milhões de "novas famílias" (desse grupo fazem parte, além dos casais sem filhos, mães ou pais que moram sozinhos com as crianças, irmãos e irmãs que dividem as contas, netos que moram com os avós e mais outras tantas combinações). Também entram nessa conta as pessoas que moram com amigos (em 2010 eram 400 mil lares nessa situação, contra 120 mil em 2002) e até as que moram sozinhas (12% do total de lares)...
A família sempre foi e continuará sendo insubstituível do ponto de vista biológico, já que os recém-nascidos são obviamente incapazes de se virar sozinhos e dependem dos adultos para sobreviver. Mas também é insubstituível porque, além de garantir a sobrevivência, o ser humano sente uma necessidade enorme de pertencer a um grupo e ser acolhido. "As pessoas se alimentam afetivamente umas das outras, e quanto mais elas se alimentam, mais fortes elas se tornam", diz Lessa. "E elas podem desenvolver isso com a família de origem ou com os amigos, tanto faz o tipo de modelo".
Cristine Kist trabalha na Superinteressante e gostou de escrever, pela primeira vez, para Vida Simples.
Fazem parte desse formato os parentes, os amigos e até os bichos de estimação, unidos não apenas pelos laços de sangue, mas também pelos de afeto.
Publicado em 20/11/2013
POR Cristine Kist/ Ilustrações: Evandro Bertol
Edição 138 (Vida Simples)
A publicitária em início de carreira Paula Corrêa ainda morava com os pais quando a mãe foi obrigada a trocar a casa da família pelo leito de um hospital. Ela lutava contra o câncer já havia algum tempo e, naquele momento, um transplante parecia a única alternativa possível. Paula era compatível e doou parte do próprio fígado. Mas a mãe não resistiu à cirurgia e morreu poucos dias depois, levando um pedaço da filha junto com ela. Paula contou essa experiência no recém-lançado “Tudo que mãe diz é sagrado” (Leya), um livro que trata, basicamente, da dor causada pelo rompimento do laço mais fundamental: aquele entre uma mãe e seu filho.
Depois da perda da mãe, Paula saiu da antiga casa da família, que "ficou grande demais", e foi morar só com o cachorro. Almoça com o pai e os irmãos nos finais de semana e diz que nunca estiveram tão unidos. De certa forma, também estreitou a relação com os amigos: "Muitos que estavam na missa de sétimo dia e me abraçaram chorando são pessoas que vão estar na minha vida para sempre". Para as estatísticas, a perda da mãe e consequente mudança de endereço significam que Paula não faz mais parte de uma família tradicional. Mas a verdade é que, apesar de "carinho de mãe não ter substituto", ela continua cercada de afeto. E, atualmente, o afeto já é aceito como um critério muito mais confiável do que os laços de sangue para determinar, afinal, o que é ou não uma família.
"Como carro do ano"
A família é, como gostam de dizer os sociólogos e os historiadores, a "célula básica" da sociedade. Quase todos os modelos de carro, por exemplo, têm cinco lugares, e os apartamentos, em geral, no máximo três quartos - tudo feito sob medida para um casal com dois ou três filhos. "Esse padrão prevaleceu nos últimos séculos e se tornou importante justamente por ser um padrão: todo mundo queria seguir a regra. Era como o carro do ano, todo mundo queria ter um", explica o psicólogo Jadir Lessa. ..
Família modelo 2013/2014
Esse último censo comprovou o que parecia evidente: a maioria dos lares do Brasil não se enquadra mais no padrão de família nuclear. Já são 28,6 milhões de "novas famílias" (desse grupo fazem parte, além dos casais sem filhos, mães ou pais que moram sozinhos com as crianças, irmãos e irmãs que dividem as contas, netos que moram com os avós e mais outras tantas combinações). Também entram nessa conta as pessoas que moram com amigos (em 2010 eram 400 mil lares nessa situação, contra 120 mil em 2002) e até as que moram sozinhas (12% do total de lares)...
A família sempre foi e continuará sendo insubstituível do ponto de vista biológico, já que os recém-nascidos são obviamente incapazes de se virar sozinhos e dependem dos adultos para sobreviver. Mas também é insubstituível porque, além de garantir a sobrevivência, o ser humano sente uma necessidade enorme de pertencer a um grupo e ser acolhido. "As pessoas se alimentam afetivamente umas das outras, e quanto mais elas se alimentam, mais fortes elas se tornam", diz Lessa. "E elas podem desenvolver isso com a família de origem ou com os amigos, tanto faz o tipo de modelo".
Cristine Kist trabalha na Superinteressante e gostou de escrever, pela primeira vez, para Vida Simples.